4 a 5 anos Gramática
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A construção da referência

Como a criança elabora o tema sobre o qual está falando, com que termos o apresenta e a quais se refere uma segunda vez.
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A que se refere?

A criança aprende, na interação com o adulto, a construir um discurso cada vez mais elaborado e completo

A criança quer saber sobre o que se fala

Como o adulto pode ajudar a criança na construção da referência

C: Como você sabe do que estão falando? Mãe: Como eu explico?

Gramática se aprende no uso

Saber implícito a todos os falantes

Eu preciso saber algo de gramática. Os especialistas dizem: Gramática é a análise de como a língua funciona para representar a realidade. Todos os falantes sabem gramática de maneira implícita, mas os estudiosos a conhecem de maneira explícita.

A fala do adulto serve de modelo para as crianças

Gramática se aprende com modelos

Mas eu me esqueci das regras! Os especialistas dizem: Saber gramática não é uma questão de saber as regras, mas de aprender a partir dos modelos. Assim, a sua fala é um modelo para a aprendizagem da gramática por seus filhos.

É importante identificar as dificuldades da criança na elaboração de seu discurso

Para ajudá-la na explicitação do tema a que se refere

E para que me serve entender a gramática? Os especialistas dizem: Para entender as conquistas e as dificuldades de Ruth. Por exemplo, faz parte da gramática a questão de aprender a que alguém está se referindo quando fala. O que diz e a que se refere.

A criança aprende muito sobre a linguagem em interação com o adulto

É na fala do adulto que ela identifica e aprende a usar os elementos de referência

Poderia me dar um exemplo? Os especialistas dizem: Por exemplo, quando você diz: “Olha! Ali vem o papai com o seu sorvete”, Ruth entende: • “Olha”→ como um chamado de atenção para olhar para uma direção; • “ali vem o papai”→ como a ação de uma pessoa que se dirige até onde elas estão; • “com o seu sorvete”→ um objeto. Ou seja, no enunciado Ruth identificou o ator, o que ele faz e o objeto.

Gestos, olhar, contexto, palavras, entonação

As crianças se atentam para os elementos de referência presentes no discurso do adulto

Veja em que as crianças se fixam para entender: Nos gestos→ que são utilizados. No olhar→ olha para o lugar certo. No contexto→ estão na praça. No que se diz: → as palavras: vem, papai, seu, sorvete; → as marcas morfológicas: vem (ele); → na ordem das palavras. No que não são palavras→ a entonação e prosódia com que se fala.

Funções das palavras no discurso

Algumas palavras indicam referência

Sim, mas há palavras que são mais importantes do que outras. Os especialistas dizem: Sim, há palavras que trazem mais informações que outras. Mas todas possuem funções. Por exemplo, “sorvete” indica a categoria das coisas (os nomes); “seu” especifica o membro individual dessa categoria (possessivos); “ali” demonstra a direção onde se deve olhar (demonstrativos); e “vem”, a ação que realiza o agente (verbo), etc.
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As relações de referência

A criança usa gestos e termos específicos para se referir a objetos específicos

Diante de uma pergunta que requer a explicitação de um pensamento

A criança aponta com o dedo como recurso para justificar sua resposta

Prof: Como você se deu conta? C: Porque saiu antes.

Para se referir à realidade...

A criança passa a usar gestos, pronomes e artigos

Dizem que a língua serve para nos comunicarmos. Os especialistas dizem: Sim, e também para nos referirmos à realidade. Para se referir à realidade as crianças aprendem a sinalizar, a usar gestos, a utilizar os demonstrativos (este, esse) e os possessivos (“meus” sapatos, é “meu”) e os artigos definidos e indefinidos (“o”, “a”, “um”).

O emprego dos pronomes cíclicos e de terceira pessoa são mais difíceis para a criança

A dificuldade nas relações de referência

Noutro dia, Ruth me contava algo sobre umas meninas na escola e fez uma confusão com “ela”, “a outra”, “o que” lhe disseram e “quem” disse… Os especialistas dizem: Sim, ao falar, a questão da referência pode levantar dificuldades. Os pronomes “eu” e “você” não apresentam problemas, mas os pronomes de terceira pessoa (ele, ela) e os clíticos (me, lhe, lo) soam ambíguos – nesses casos, tem que se levar em conta a perspectiva do outro, algo que se conquista bem mais adiante.

A criança começa a empregar termos com maior precisão

Termos definidos e indefinidos

Quando eu digo “coloque uma camisa”, ela me pergunta “qual?” e tenho que lhe dizer: “a amarela”. Os especialistas dizem: Pede definição! Porque já entende que uma camisa é indefinida. Pode fazer a seguinte distinção: • definidos: Está em/ sobre o “x”. É o “x”, isso é o “x”; e indefinidos: Pegue “um x”. Quero “um x”.

A criança reflete sobre os termos empregados na linguagem

Assim, aprende e organiza as palavras em seu discurso cada vez com maior rigor

Como aprende essas diferenças? Os especialistas dizem: Porque faz oposições: • Entre UM e A: UM serve para apresentar (“Era uma vez uma menina que se chamava Chapeuzinho Vermelho”). A serve para determinar que nos referimos a Chapeuzinho Vermelho (“Então a Chapeuzinho Vermelho foi pelo caminho mais longo”). • Entre UM e a ausência de artigo: “UM cavalo” (é um membro da categoria). Sem artigo, “cavalo”, é o nome da categoria.
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A referência é visível?

Falar com a criança em contextos diferentes ou quando não há acessibilidade visual para que ela aprenda a considerar o interlocutor ausente e a não visibilidade do referente

A criança começa a empregar o pronome demonstrativo

O que fazer quando o interlocutor não está presente?

Ruth: Eu gosto dessa cor. Avó: ??!!!

Este, esta, isto

O demonstrativo relacionado ao contexto da criança

Muitas vezes eu a corrijo porque diz “este” ou “esse” quando eu não estou olhando. Os especialistas dizem: O que acontece é que a criança utiliza a língua para mostrar que algo está em seu contexto e usa os pronomes demonstrativos que estão relacionados a sinalizar com os dedos, com as mãos, com o corpo ou com os gestos.

O gesto, o discurso e a gramática

Uma aprendizagem gradual

Os especialistas dizem: Os estudos dizem que os pronomes demonstrativos e os gestos têm a mesma função, eles são utilizados para focalizar a atenção do ouvinte sobre os objetos, pessoas ou lugares. Os pronomes demonstrativos são o vínculo entre o gesto, o discurso e a gramática.

O adulto deve brincar com as referências

Opor a presença e a ausência dos objetos referidos para a criança

Então, não devo corrigi-la? Os especialistas dizem: Depende! O que podemos fazer é brincar com a referência, fazer oposições entre a presença e a ausência - quando, por exemplo, os referentes do discurso não estão visíveis (como quando falamos ao telefone).

O adulto deve ajudar a criança a especificar os referentes

E aprender a considerar o ponto de vista do interlocutor